FAQ

  1. Os humanos, como omnívoros, não têm necessidade de comer animais?

    Não. Isso é o que nos ensinaram, mas não corresponde nem de longe nem de perto à realidade. Os humanos são animais omnívoros, mas têm características fisiológicas muito mais próximas dos animais herbívoros do que dos carnívoros. Ser omnívoro não significa que se tenha de comer carne ou outros produtos de origem animal, significa apenas que conseguimos digerir esses alimentos. Os produtos de origem animal não só não são necessários para uma dieta equilibrada, como têm muitos efeitos nocivos para a saúde humana.

    Uma dieta vegana é perfeitamente adequada às nossas necessidades e é tão ou mais saudável do que uma dieta omnívora. A posição oficial da Associação Americana de Nutrição (a maior organização de nutricionistas mundial) é que «dietas vegetarianas bem planeadas, incluindo dietas veganas, são saudáveis, nutricionalmente adequadas, e podem oferecer vantagens para a saúde na prevenção e tratamento de determinadas doenças. Dietas vegetarianas bem-planeadas são apropriadas para todas as fases da vida, incluindo gravidez, aleitamento, primeira infância, infância, adolescência, e para atletas.».

  2. Se os animais se comem uns aos outros, porque não devemos nós comê-los a eles?

    Esta questão é engraçada, porque aquilo que os outros animais fazem é normalmente dado como exemplo daquilo que os humanos se devem abster de fazer (já que somos supostamente superiores). Contudo, quando nos convém, invertemos rapidamente os papéis para tentar arranjar alguma desculpa (esfarrapada).

    Se há animais carnívoros, também há muitos que são herbívoros. E os maiores animais terrestres são precisamente os herbívoros — elefantes, hipopótamos, búfalos, bisontes, entre outros — e não consta que tenham falta de proteína. Sorriso Por que motivo o exemplo dos carnívoros é melhor do que o exemplo dos herbívoros?

    Aquilo que os outros fazem (sejam humanos ou outros animais) não serve de justificação para as nossas acções — a menos que ainda estejamos na escola primária. Piscar de Olho Cada um de nós é o responsável máximo pelas suas próprias acções. Ao escolhermos consumir produtos de origem animal estamos a contribuir directamente para sofrimento e morte absolutamente injustificáveis — é tão simples quanto isso. E não adianta dizer que a culpa é do leão ou do tigre.

    Se a escravatura fosse prática generalizada na sociedade, isso fazia com que fosse justificável? Do mesmo modo, o facto de comer outros animais ser prática generalizada entre humanos ou na natureza é irrelevante para saber se é justo ou não. Por outro lado, para o leão ou para o tigre, não há escolhas certas nem escolhas erradas, pois eles não têm o conceito de moralidade e fazem aquilo que têm de fazer para sobreviver. No entanto, nós, humanos, nesta sociedade desenvolvida, não temos nenhuma necessidade de explorar e matar outros animais. Nós, humanos, devemos fazer as nossas escolhas com base em princípios éticos. E, se nós podemos escolher não explorar outros animais, mas ainda assim escolhemos explorá-los, como pode não haver nada de errado nisso?

  3. Não são os humanos superiores aos outros animais?

    Os humanos não são superiores aos outros animais, são apenas diferentes. O facto de os pássaros conseguirem voar não os torna superiores a nós. O facto de os cães conseguirem identificar-se uns aos outros pelo olfacto não os torna superiores a nós. Da mesma forma, o facto de os humanos conseguirem apreciar poesia ou resolver problemas matemáticos não os torna superiores a quem não consegue.

    Além disso, não há nenhuma característica psicológica que todos os humanos possuam e nenhum outro animal possua. As crianças de tenra idade ou pessoas com determinadas incapacidades mentais, por exemplo, são menos inteligentes do que muitos outros animais. Mas não é pelo facto de serem menos inteligentes que merecem menos respeito. Do mesmo modo, não é pelo facto de os outros animais serem menos inteligentes do que a maioria dos humanos que merecem menos respeito. O que é relevante é que todos nós somos seres psicológicos que experienciamos aquilo que nos acontece e nos importamos com aquilo que nos acontece.

    A melhor justificação que os humanos encontram para negar direitos aos outros animais é dizer que “nós somos humanos e eles não”. Mas isso não é diferente de dizer “nós somos brancos e eles não”, “nós somos homens e elas não” ou “nós somos heterossexuais e eles não”. Se quisermos tratar os outros de forma justa, não os podemos discriminar de forma arbitrária, pois a discriminação é inimiga da justiça.

  4. E as plantas não sofrem também, como seres vivos que são?

    Esta pergunta não costuma ser a sério — é só uma daquelas coisas que se pergunta aos veganos à falta de alguma questão inteligente para colocar. Piscar de Olho Obviamente, ninguém acredita que matar um cão ou matar uma galinha seja comparável a colher uma cenoura, por exemplo. As plantas não têm cérebro nem sistema nervoso central, pelo que é absurdo falar-se no sofrimento das plantas. É claro que as plantas sentem algumas das coisas que se passam no seu exterior, o que lhes permite, por exemplo, voltarem-se para o sol. Mas isso não é diferente do que “sente” um sensor electrónico, por exemplo. O que é moralmente relevante é a consciência, a qual obviamente não existe nas plantas.

  5. Os direitos não exigem deveres? Como podem os animais ter direitos, se não têm deveres?

    A noção de que os direitos exigem deveres é uma noção falaciosa. Existem muitos humanos que não têm o dever de respeitar os direitos de terceiros, mas isso não faz com que deixem de ser merecedores de respeito. Por exemplo, crianças de tenra idade ou pessoas com incapacidades mentais não conseguem respeitar os direitos de terceiros, mas não são menos merecedoras do nosso respeito por causa disso. O mesmo se aplica aos outros animais.

  6. Os insectos também têm direitos?

    Os insectos e os animais invertebrados em geral são caracterizados cientificamente como animais, mas diferem muito dos mamíferos, aves e peixes. Por outro lado, existe uma enorme diversidade de animais invertebrados com características muito distintas entre si, pelo que é difícil fazer algumas generalizações. Em qualquer caso, e apesar de ser certo que muitos invertebrados “sentem” e “reagem”, não há nenhuma prova científica que aponte no sentido de que eles tenham consciência no sentido moralmente relevante.

    O que é moralmente relevante para respeitarmos outros animais é que eles são seres que estão neste mundo de forma consciente, têm consciência daquilo que lhes acontece, e aquilo que lhes acontece faz toda a diferença na forma como eles experienciam a vida deles.

    O facto de os invertebrados não terem consciência, não significa que os possamos tratar como nos apetecer. Em todos os casos em que podemos facilmente evitar ferir ou matar animais invertebrados, devemos fazê-lo.

  7. Em vez de falar em direitos, não devíamos defender antes o bem-estar e o tratamento condigno dos animais?

    O que é o tratamento condigno dos animais? É criá-los, explorá-los e matá-los para nosso benefício? Não há nenhuma dignidade na exploração dos outros animais. Usar os outros animais como recursos é errado em si mesmo, independentemente de o fazermos de forma mais ou menos cruel. Além de que, na prática, é impossível explorá-los sem crueldade.

    Achas que a escravatura humana devia ter sido reformada de modo a explorar os escravos sem muita crueldade? Achas que a subjugação das mulheres aos homens devia continuar, mas sem muita crueldade? Quando uma instituição é injusta, não se pedem reformas, pede-se a sua abolição.

  8. Não basta adoptar uma dieta vegetariana? O que há de errado com o leite, o queijo e os ovos?

    O veganismo e o vegetarianismo são duas coisas bem distintas. O veganismo é a aplicação na nossa vida de um princípio ético que defende a abolição da exploração de outros animais, ao passo que o vegetarianismo se resume a uma dieta.

    A maioria das pessoas que procura respeitar os outros animais começa por se tornar vegetariana, ignorando que o vegetarianismo não é uma posição coerente. A única posição coerente é rejeitar todos os produtos alimentares resultantes da exploração animal, bem como todos os outros produtos ou actividades que envolvam exploração animal.

    Um copo de leite envolve tanto ou mais sofrimento do que um bife. Para que tenham leite, as vacas têm de ser constantemente forçadas a engravidar e os filhos são-lhes retirados à nascença, o que causa enorme sofrimento a ambos. Os filhotes machos são criados e abatidos para consumo, enquanto que as fêmeas podem seguir para consumo ou para substituir outras vacas leiteiras. As vacas leiteiras rapidamente ficam desgastadas e não passam dos 7 anos de idade, altura em que são enviadas para o matadouro, exactamente como acontece às vacas criadas especificamente para consumo. Em santuários, as vacas poderiam viver mais de 20 anos. A compra de leite, queijo e outros lacticínios financia directamente a exploração e morte das vacas leiteiras e a morte dos vitelos.

    Para produzir ovos, são necessárias galinhas poedeiras. No entanto, metade das “galinhas” que nascem são machos, os quais não interessam para a produção de ovos e são cruelmente mortos logo depois de saírem dos ovos. Quanto às galinhas poedeiras, são exploradas durante 1 a 2 anos em condições quase sempre deploráveis até ficarem esgotadas, altura em que são enviadas para o matadouro para consumo. Em santuários, as galinhas poderiam viver mais de 10 anos. A compra de ovos e produtos com ovo financia directamente a exploração e morte das galinhas e a morte de milhares de pintainhos macho recém-nascidos.

  9. Devemos tratar bem os animais, mas não podemos cair em fundamentalismos.

    Nós somos completamente contrários a extremismos e fundamentalismos, pois rejeitamos em absoluto que os fins justifiquem os meios e rejeitamos todo e qualquer tipo de violência.

    Não há nada de extremista ou de fundamentalista em respeitar os direitos dos outros animais, muito pelo contrário. Respeitar os direitos dos animais é uma atitude de inclusão, justiça e não-violência. Acusar aqueles que defendem os direitos dos animais de serem extremistas ou fundamentalistas é apenas uma manobra de diversão. Embora haja uns quantos defensores dos direitos dos animais que não olhem a meios para atingir os seus fins (como em qualquer movimento), a grande maioria dos defensores dos direitos dos animais defende a não-violência.

    Posição fundamentalista é pensar que alguma suposta superioridade humana nos dá o direito de criarmos animais aos milhões, de os sujeitarmos a vidas miseráveis, de os torturamos e de os matarmos.

  10. Um vegano a mais ou a menos faz alguma diferença?

    Ser vegano não se resume a contribuir para a diminuição da exploração animal. Ser vegano é um princípio básico de respeito pelos outros animais.

    Imagina que um grupo de pessoas está a matar outra ao pontapé. Faz alguma diferença se tu te juntares a eles e começares também a agredir o moribundo, que irá morrer de qualquer forma? Claro que faz toda a diferença! Mas, então, por que motivo achamos que não faz diferença participar na exploração e morte de outros animais?

    Por outro lado, cada um de nós faz toda a diferença em termos do poder que tem como consumidor e de exemplo que transmite para a sociedade. A escolha com que te deparas não é entre fazer a diferença e não fazer. Todas as acções têm consequências e todos nós fazemos a diferença. A questão é: queres fazer a diferença no sentido da justiça ou da injustiça? No sentido da liberdade ou da exploração? Sempre que compras alguma coisa, o poder é todo teu. Decidindo não comprar produtos de origem animal, estás a ter uma influência directa na diminuição da procura de produtos resultantes da exploração animal e no aumento da procura de produtos alternativos.

  11. Ser vegano não implica também a morte de animais durante a produção dos vegetais?

    É verdade que alguns animais (por exemplo, ratos, toupeiras e outros) podem ser mortos durante o cultivo e a colheita de vegetais. No entanto, isso não é um dado adquirido — é perfeitamente possível cultivar vegetais sem matar animais — e a questão relevante aqui é a intencionalidade. A intencionalidade faz toda a diferença do ponto de vista moral. Dizer que os veganos são responsáveis pelos animais que são mortos para produção de vegetais é tão absurdo como dizer que quem constrói uma estrada é responsável pelas pessoas que morrem em acidentes de viação nessa estrada.

    Podemos e devemos pedir que a produção de vegetais seja efectuada com cuidado e respeito pelos animais, mas não somos responsáveis pelos animais que morrem acidentalmente ou em resultado das acções dos produtores.

  12. Não devíamos combater antes problemas mais graves, como a fome mundial?

    Paradoxalmente, este tipo de questões costuma ser colocado pelos mais comodistas da sociedade que não estão envolvidos em nenhuma causa de justiça social. Estas questões costumam ter apenas o objectivo de desvalorizar os direitos dos animais. A verdade é que quem defende os direitos dos animais também defende os direitos humanos e que os direitos dos animais não surgem em detrimento dos direitos humanos. Muito pelo contrário, os direitos dos animais são uma extensão dos direitos humanos.

    O facto de existirem causas que alguns consideram mais importantes ou mais urgentes não serve de justificação para ignorar nenhuma outra injustiça. Ninguém precisa de explorar animais para combater a fome (muito pelo contrário, uma dieta vegana é muito mais sustentável do que uma dieta omnívora e permite alimentar muito mais pessoas). Ninguém precisa de explorar animais para combater a violência doméstica. Ninguém precisa de explorar animais para combater a exploração infantil.

    Podemos e devemos lutar por outras causas de justiça social ao mesmo tempo que defendemos o direito dos animais a não serem explorados.

  13. Não é a experimentação científica justificável pelo bem que produz para a humanidade?

    Não. A experimentação utiliza os animais como meios para atingir um determinado fim. Por mais nobre que seja esse fim, não se pode sacrificar ninguém por ele, quer se tratem de humanos ou de outros animais.

    Ninguém sugere que se façam experiências biomédicas em humanos sem o seu consentimento, apesar de sabermos que isso traria certamente um enorme avanço científico. Do mesmo modo, ninguém deve aceitar que os outros animais sejam utilizados como recursos de investigação científica.

    Além do mais, os dados assim obtidos não podem ser extrapolados directamente para os humanos: as diferenças fisiológicas entre humanos e outros animais não permitem analogias directas (por exemplo, substâncias tóxicas para humanos não o são para outros animais).

    A experimentação em animais não tem nenhuma justificação moral e tem fraca justificação científica, mantendo-se em força nos dias de hoje sobretudo porque é um negócio que envolve muito dinheiro.

  14. Podem os veganos tomar medicamentos?

    Como veganos, somos clara e inequivocamente contra o teste de medicamentos em animais e contra o desenvolvimento de medicamentos com recurso a experimentação animal. No entanto, um vegano pode e deve tomar medicamentos que sejam necessários de acordo com as indicações do seu médico — e não há nenhuma hipocrisia nisso. O facto de tomarmos um medicamento que é obtido através de um processo que consideramos imoral não nos torna co-responsáveis nesse processo. A responsabilidade é dos legisladores que obrigam aos testes dos medicamentos, das farmacêuticas que desenvolvem medicamentos com recurso à experimentação em animais e de quem suporta essas práticas ou é conivente com elas. Nós defendemos claramente a abolição da experimentação em animais, no entanto, enquanto não existem medicamentos desenvolvidos sem exploração animal, não somos obrigados a tornarmo-nos nalguma espécie de mártires — podemos obviamente tomar medicamentos quando necessário.

    Considera também o seguinte exemplo. Imagina que vives num local onde existe apenas uma fonte de água potável que é controlada por uma empresa que utiliza trabalho escravo para retirar a água de um poço e engarrafá-la. Tu consideras o trabalho escravo completamente imoral — é tua obrigação morreres à sede? Claro que não. A tua obrigação é levantares a tua voz contra a exploração que ocorre nessa empresa, mas não tens certamente de te sacrificar por causa de uma injustiça que é da responsabilidade de terceiros.

  15. Se nos tornarmos todos veganos, não irão os porcos, as vacas, as galinhas e outros animais domésticos extinguir-se?

    Algumas pessoas parecem ter a noção fantasiosa de que estamos a fazer alguma espécie de favor aos animais trazendo-os ao mundo para uma curta e miserável vida de exploração seguida de uma morte cruel. Claro que isto é absurdo. Aquilo que estamos a fazer é a tratar os animais como se fossem recursos, ignorando por completo que são indivíduos únicos e merecedores de respeito.

    Os animais devem poder viver as suas vidas da forma mais natural possível, sendo nossa obrigação preservar os habitats deles. No caso dos animais domésticos, não faz sentido continuar a trazer mais animais domésticos ao mundo apenas para os explorarmos e, por fim, os matarmos.

  16. É impossível evitar a 100% a exploração animal, por isso mais vale esquecer!

    É verdade que a exploração animal está fortemente enraizada na nossa sociedade e, a menos que nos tornemos eremitas, todos nós contribuímos para um sistema e para uma economia que exploram animais. No entanto, o facto de uma injustiça estar enraizada na sociedade não é desculpa para a ignorarmos. Se assim fosse, a sociedade nunca evoluía e ainda hoje a escravatura humana seria legal.

    Os restos dos corpos dos animais abatidos para alimentação são utilizados por diversas indústrias, pois tratam-se de subprodutos muito baratos e que existem em enormes quantidades. Os ingredientes de origem animal são utilizados para tudo e mais alguma coisa: refinação de açúcar; filtragem de sumos e vinhos; produção de plásticos, colas, tintas e tecidos sintéticos; produção de líquidos de refrigeração para frigoríficos e aparelhos de ar-condicionado; produção de asfalto; etc. Isto para não falar na imensidão de produtos alimentares que contêm diversos ingredientes de origem animal.

    Devemos ter presente que o veganismo não se trata de procurar nenhuma espécie de pureza. A nossa obrigação como veganos é evitar todos os produtos que contribuam de forma mensurável para a exploração animal. Obviamente que nós não somos directamente responsáveis pelos processos e ingredientes utilizados nas diversas indústrias, e não é ao evitar consumir produtos com açúcar refinado, por exemplo, que estamos a contribuir de alguma forma significativa para o fim da exploração animal.

    É importante ter em mente que estes subprodutos de origem animal e processos industriais que utilizam produtos animais só são tão prevalecentes na indústria, porque o consumo de carne e produtos animais é generalizado. À medida que mais pessoas se tornarem veganas, os subprodutos da exploração animal serão cada vez menos aceites e menos abundantes, e irão sendo naturalmente substituídos.

    Isto não quer dizer que não precisemos de nos preocupar com subprodutos de origem animal. Quer apenas dizer que devemos utilizar o nosso bom senso e que nem sempre as escolhas se resumem a uma questão de “tudo ou nada”.

    Nenhuma exploração animal, por mais pequena que seja, é justificável nem deve ser ignorada. No entanto, na nossa actual sociedade, alguma contribuição marginal e indirecta para a exploração animal é inevitável.