Respeitar e Matar?

Mark Zuckerberg
Mark Zuckerberg
Guillaume Paumier /
Wikimedia Commons, CC-by-3.0

O criador do Facebook, Mark Zuckerberg, tem causado agitação nos últimos dias, depois de anunciar que só come animais que ele próprio mata. No dia 4 de Maio, publicou uma nota privada para os seus amigos no Facebook: “Acabei de matar um porco e uma cabra.”. Mais tarde, enviou à Fortune uma nota a explicar o que lhe vai na alma, onde se destaca o seguinte:

«Este ano, o meu desafio pessoal centra-se em dar graças pela comida que tenho para comer. Acho que muitas pessoas se esquecem de que um ser vivo tem de morrer para que tu comas carne, por isso, o meu objectivo centra-se em não me esquecer disso e dar graças pelo que tenho. Este ano, tornei-me praticamente vegetariano, pois a única carne que como é de animais que eu próprio matei.»

Muitos têm criticado e até insultado ferozmente o Mark, como se ele estivesse a fazer alguma coisa pior do que aquilo que a esmagadora maioria da população faz, que compra alegremente carne, peixe, leite, queijo e ovos no supermercado, pagando a outros para fazerem o “trabalho sujo”. Mas a verdade é que é tão responsável o autor material (quem explora e mata os animais) como o autor moral (que paga para que isso aconteça). O Mark está simplesmente a cortar o intermediário.

E, afinal, isto é bom ou é mau? Bem, poderia ser bom, se não fosse mau. Piscar de Olho Poderia ser bom se o Mark, ao invés de considerar que a satisfação do seu paladar é justificação suficiente para matar, tivesse conseguido sentir empatia pelos outros animais e perceber que eles não existem para nos servir. Na atitude dele, não há nenhum respeito. Não importa se agradecemos ao animal antes de o degolar, não importa se fazemos uma oração pelo animal que vamos comer. O mínimo que o respeito exige é que não tratemos os outros como coisas que servem exclusivamente para nosso benefício. Como é possível respeitar alguém que se mata por nenhum motivo que não a satisfação do nosso paladar?

Porco

Quando confrontada com a exploração animal, a maioria das pessoas gosta de romantizar a vida dos animais. As pessoas imaginam uma quinta ideal onde os animais são acarinhados e vivem muito felizes. Imaginam que as vacas leiteiras passam os dias a pastar em prados verdejantes e que correm contentes para serem as primeiras a ser ordenhadas. Imaginam que as galinhas se ocupam a esgravatar na terra e que oferecem alegremente os seus ovos aos humanos. Imaginam que os porcos passam o dia a comer bolotas e que se divertem a brincar na lama.

Mas a verdade é que 99,9% dos animais criados para consumo têm vidas miseráveis. Vidas marcadas pelo confinamento, pela mutilação, pela manipulação sexual e pela constante privação e frustração dos seus instintos naturais. Claro que é possível criar animais em condições próximas das condições ideais de bem-estar. Só há um problema: por melhores que sejam as condições que alguém dá aos animais que cria para consumo, o destino deles está marcado à nascença. E esse destino é a faca. E, por melhor que se trate um animal, por mais carinho que se lhe dê, nada disso branqueia a violência do acto de matar.

Não é por acaso que matar um humano é o crime punido com pena mais elevada no código penal. Quando se acaba com a vida de alguém, acaba-se com todo o mundo desse alguém. E os outros animais são alguém que estão neste mundo tal como nós. Tal como nós, os outros animais podem sofrer ou alegrar-se, sentir medo ou solidão, sentir frustração ou satisfação. Tal como nós, os outros animais têm percepção do mundo que os rodeia e têm consciência daquilo que lhes acontece. Tal como nós, eles têm interesse em viver a vida deles e não querem morrer. Que tacanhez mostramos, afinal, quando nos julgamos tão superiores a todos os outros animais ao ponto de pormos e dispormos das vidas deles a nosso bel-prazer.

Respeitar e matar: definitivamente, duas palavras que não se conjugam.

Publicado segunda-feira, 30 de Maio de 2011

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