Especismo: a Discriminação Mais Enraizada e Mais Ignorada

Especismo

Se há um preconceito que é comum a pessoas de todas as raças, todos os géneros, todas as idades, todas as classes sociais e praticamente todos os credos, esse preconceito é o especismo.

O especismo é a noção de que nós, como animais humanos, temos maior valor moral do que os animais das outras espécies, simplesmente porque somos da espécie humana. Nesta sociedade, o especismo é-nos inculcado desde tenra idade. Na escola e em casa, cedo nos dizem que a espécie humana é a melhor, a mais inteligente e a mais forte. Cedo nos dizem que os outros animais são inferiores a nós e que existem para nosso benefício. E, sem sequer termos noção disso, começamos também nós a discriminar os outros animais e a deixar de questionar por que motivo são explorados e mortos pelos humanos.

Chegou a altura de questionares novamente. Chegou a altura de voltares a fazer as perguntas que já fizeste em criança. Chegou a altura de perguntares que direito têm os humanos de usar os outros animais como se coisas fossem, como se não passassem de autómatos desprovidos de sentidos e sentimentos. Como qualquer pessoa que conviva de perto com animais de outras espécies pode constatar, e como a ciência o tem demonstrado, os outros animais (sejam eles um cão, uma galinha, um leão ou um porco) têm consciência, têm personalidades únicas, podem alegrar-se e entristecer-se, podem sentir dor ou prazer, e procuram viver felizes. O uso que fazemos dos animais das outras espécies, seja de forma mais ou menos “humana”, baseia-se no preconceito e é pura e simplesmente injustificável.

Como Darwin afirmou já no século XIX, partilhamos com os outros animais a mesma natureza e não existe nenhuma diferença fundamental entre nós. A diferença que existe é apenas em grau. Os humanos (na sua maioria) têm algumas capacidades mentais mais desenvolvidas do que os outros animais, mas, em contraponto, muitos animais têm outras capacidades com as quais nós só podemos sonhar, como sejam voar, respirar debaixo de água, ver na escuridão ou orientar-se sem mapa nem GPS.

Há muitos humanos (crianças de tenra idade, pessoas com incapacidades mentais, pessoas senis) que possuem faculdades mentais inferiores, por exemplo, às dos porcos e das vacas que rotineiramente exploramos. Contudo, ninguém defende que se utilizem esses humanos como cobaias científicas ou como dadores forçados de órgãos. Ninguém o defende, porque não importa se alguém é muito ou pouco inteligente para respeitarmos esse alguém. Não importa se tem uma grande capacidade artística ou nenhuma. Não importa se é ou não capaz de pensamento abstracto. Não importa se discursa de forma eloquente ou se não consegue expressar-se. Tudo o que importa, tudo o que nos basta, é saber que esse alguém tem consciência daquilo que se passa e quer viver a sua vida livre de sofrimento. E isso aplica-se não só aos animais humanos, como aos animais não-humanos.

O especismo não é diferente do racismo, do sexismo, da homofobia ou da xenofobia. Todas as discriminações assentam em preconceitos e resultam em opressão e violência. Todas as discriminações são um ataque à justiça e todas elas devem ser igualmente rejeitadas. Quem defende a justiça não deve opor-se apenas a algumas discriminações. Deve opor-se a todas, incluindo o especismo.

Chegou a altura de respeitarmos todos aqueles que têm o direito a ser respeitados, independentemente da espécie a que pertencem. Rejeita, hoje mesmo, o especismo e toda a violência que esta discriminação acarreta. Um mundo com justiça para todos os animais começa com cada um de nós.

Publicado terça-feira, 10 de Maio de 2011

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