O Conflito Fabricado

Engenhosos como somos, gostamos de fabricar conflitos com os outros animais como forma de justificar a exploração que fazemos deles, ou simplesmente para justificar a nossa indiferença e passividade.

Criança vs. Cão

Recentemente, uma marca de vestuário promoveu um concurso no Facebook para obter publicidade e, incidentalmente, oferecer um donativo à organização mais votada. No final, ganhou uma organização de protecção de animais de companhia, tendo saído derrotadas organizações de protecção de humanos. Ora, parece que os organizadores não gostaram do resultado e resolveram ignorar a votação, oferecendo o prémio a uma das organizações que tinha sido derrotada. Justificação? O prémio é só um e, entre ajudar humanos ou ajudar outros animais, parece evidente que só um misantropo com profundo ódio aos humanos iria optar por ajudar os outros animais, não?

Aqui está um excelente exemplo de um conflito fabricado: ou ajudas as “pessoas” ou ajudas os “animais”. O enunciado é tão simples e repetido até à exaustão por quem defende o status quo, que a maioria de nós o aceita sem pensar duas vezes. Mas basta pensar um pouco para perceber que se trata de uma falsa questão baseada no preconceito. Não há absolutamente nada no respeito pelos outros animais que diminua a nossa capacidade de respeitar e ajudar os humanos. Pelo contrário, quem respeita os direitos dos animais não-humanos respeita também os direitos dos animais humanos. E são muitas as pessoas que participam simultânea e activamente em movimentos de justiça social, de direitos humanos, de direitos civis e de direitos dos animais. Podemos e devemos respeitar todos os animais: humanos e não-humanos. Lamentavelmente, as pessoas que fazem mais uso deste tipo de argumentos especistas (discriminatórios dos outros animais) são frequentemente as mais comodistas da sociedade e que não movem uma palha para ajudar outros humanos, mas que se indignam com quem ajuda outros animais.

Mas a nossa aptidão para fabricar conflitos não fica por aqui e conseguimos arranjar os conflitos mais improváveis. Quando se trata de comer animais e produtos de origem animal, somos levados a justificar o nosso consumo como sendo uma questão de vida ou de morte. Recorremos ao velho exemplo do humano que se vê numa ilha deserta sem nenhuma hipótese de sobreviver, a menos que mate outros animais para comer. Mas é mais provável sermos atingidos por um relâmpago do que naufragarmos nessa ilha. E aquilo que faríamos numa situação extrema nada nos diz sobre o que devemos fazer em condições normais. Esquece a ilha deserta e os cenários hipotéticos. Tu tens de viver a tua vida aqui e agora. E nunca foi tão fácil viver sem produtos de origem animal.

Vacas Leiteiras

Em 99,9999% dos casos, não temos nenhum conflito real com os outros animais — o conflito é propositadamente fabricado por nós. Que mal nos fez a vaca que pagamos a alguém para que seja repetidamente engravidada, separada à força dos filhos recém-nascidos e atormentada pelas máquinas que lhe sugam o leite? Que mal nos fez o porco que pagámos a alguém para ser degolado? Que mal nos fez a galinha poedeira que pagamos a alguém para explorar até que fique tão extenuada que não suporte o próprio peso? Que mal tão grande nos fizeram estes animais para serem condenados à morte, antecedida de uma longa tortura?

Eles não fizeram mal nenhum a nenhum de nós. Os animais que exploramos na indústria alimentar são os animais mais dóceis da natureza. E o que é que nós lhes oferecemos em troca dessa amistosidade? Exploramo-los o máximo que conseguimos. E não é coincidência. É precisamente por serem animais dóceis que suportam a exploração e a tortura sem se defenderem que nós os exploramos da forma que exploramos.

Não se trata de um conflito. Não se trata de uma guerra. Trata-se simplesmente de uma agressão sem resposta. Somos humanos, mas pouco.

Desliga-te da agressão institucionalizada. Torna-te vegana/o! Os animais não podem esperar.

Publicado quarta-feira, 16 de Novembro de 2011

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